Mergulho de Sonho!!
Chegámos ao Campo Hidrotermal Lucky Strike pela manhã.
O Sol já brilha, o mar está relativamente calmo, mas ainda com alguma corrente. Será que vamos conseguir??
Foram analisados os factores inerentes ao mergulho do ROV, e decidiu-se adiar este para a parte da tarde, pois as condições para mergulhar já seriam supostamente mais favoráveis.
E assim aconteceu, o ROV iniciou o seu mergulho por volta das 16h (hora local) e só chegou ao fundo oceânico às 17h30m (pois teve de descer 1700m).
Quando chegámos ao fundo, a expectativa era grande, todos queríamos ver as fontes hidrotermais. Fomos encontrando pillow lavas (lavas em almofada), pequenos corais (como por exemplo gorgónias) e alguns peixes.
Até que finalmente o momento chegou e surgiu no ecrã um conjunto de fontes hidrotermais, White Smokers (emanam fluidos de tonalidade esbranquiçada, o que revela a fraca presença de metais). Aqui está uma grande prova do dinamismo do nosso planeta.
Chaminé Hidrotermal activa.
Estas estavam assinaladas com marcadores (pequenas marcas deixadas por outros investigadores).
Posteriormente fomos ao encontro de uma outra fonte, já bastante conhecida, a Torre Eiffel, e agora já percebi a imponência do seu nome. É de facto uma estrutura grandiosa, com cerca de 20 metros de altura e com uma base bastante larga, superior a 1,5 metros de largura.
Esta chaminé é uma Black Smoker, visto que emana fluidos ricos em metais, que posteriormente precipitam e formam sulfuretos, como o cobre, zinco e ferro.
Para melhor entenderem a dinâmica hidrotermal, foram disponibilizadas, por geólogos da Equipa Científica, as seguintes imagens:
Actividade Hidrotermal
Uma grande parte da chaminé (Torre Eiffel) está revestida por uma fauna característica destas zonas hidrotermais, temos uma grande abundância de mexilhões de tonalidade acastanhada, camarões e caranguejos com ausência de pigmentação (esbranquiçados) e aranhas castanhas. Também encontramos associados aos mexilhões algumas espécies de comensais, poliquetas de cor vermelha e um molusco univalve – Capulus.
Estão também presentes e em grande número arqueobactérias, bactérias quimiossíntéticas, que se evidenciam nas imagens através de filamentos esbranquiçados que cobrem a chaminé bem como as espécies ai existentes. Estas sustentam a vida das comunidades ai presentes.
Estas bactérias também se encontram em fissuras, perto das chaminés, onde as temperaturas são menores.
Na Flange (estrutura côncava resultante da actividade hidrotermal) verificou-se a existência de um lago invertido, que se forma devido às diferentes propriedades entre a água do mar e o fluido hidrotermal. Este fluido é menos denso que a água do mar e tende a subir, e se for ao encontro de uma flange fica aprisionado, ficando a água do mar por baixo deste. Este efeito assemelha-se a um lago invertido.
Seguidamente o ROV avançou para outras chaminés hidrotermais – black smokers e colocámos um marcador (PT1) na vent 7, de forma a assinalar a nossa presença neste campo hidrotermal, pois foi a primeira missão de organização e meios totalmente portuguesa (ROV, Equipa Científica, Navio e tripulação) a mergulhar neste local, embora os formadores de pilotos ROV sejam de nacionalidade escocesa e sueca. Foi um momento único!!
Primeiro marcador totalmente Português no Fundo Oceânico!
Durante a nossa viagem fantástica, veio-nos visitar ao convés uma ave marinha designada de alma negra, que resolveu descansar um pouco para depois tomar o seu rumo.
Foram recolhidas amostras de foro geológico (rochas e sedimentos), biológico e porções de água.
O mergulho terminou às 2h30m (da madrugada), hora que o ROV chegou à superfície, foram portanto dez horas de mergulho. Depois procedeu-se ao tratamento das diversas amostras recolhidas. Todo o trabalho terminou por volta das 4h da manhã, embora a equipa da biologia trabalhou até às 6h da manhã.
Estamos muito cansados, mas muito contentes e entusiasmados. Vale a pena!!
A partir das 4h da manhã, navegámos, de novo, em direcção ao campo hidrotermal de Menez Gwen, para que se realize um mergulho nesse local.